Povos do Tapajós apelam ao STF e ao Congresso pela reprovação de MP que diminui unidades de conservação no Pará

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A eminência da votação, na Câmara dos Deputados, da Medida Provisória 558/2012  – que diminui cinco unidades de conservação no Pará para facilitar  a construção de hidrelétricas –, levou lideranças indígenas, ribeirinhas, de pescadores e de movimentos sociais da bacia do rio Tapajós, organizadas no Movimento Tapajós Vivo, a escrever um apelo contundente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso Nacional para que rejeitem a medida editada pela presidência da república.

No início do ano, o Ministério Público Federal em Brasília impetrou no STF uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a MP 558. Relatora da ação, a ministra Carmem Lúcia Antunes Rocha pediu ao governo que se manifestasse sobre as denúncias do MPF (o que já ocorreu), e determinou urgência na tramitação.

De acordo com o MPF, até o processamento e julgamento da ação pelo STF, as garantias constitucionais para as áreas protegidas amazônicas estão seriamente ameaçadas. “Mexer nos limites de unidades de conservação em uma região sensível como a Amazônia já é complicado, mas fazê-lo sem estudos ou consulta pública, por meio de canetada, é autoritário e bota em risco as garantias constitucionais da proteção ambiental”, afirma Felício Pontes Jr, do MPF no Pará.

Esta avaliação foi corroborada por uma nota técnica da ONG Imazon, publicada esta semana. “A iniciativa de redução [de Unidades de Conservação], se convertida em lei pelo Congresso, abre precedente para que outras reduções de áreas protegidas ocorram e sejam realizadas da mesma forma em vista das demais hidrelétricas planejadas para a Amazônia, além de tornar o processo de licenciamento ambiental questionável juridicamente”, afirma o Imazon.

O Congresso Nacional estipulou um prazo até 30 de maio para votar a MP 558. De acordo com o MPF, se a MP for convertida em lei antes do julgamento no STF, uma nova Adin deverá ser iniciada e processada no Supremo.

Veja abaixo a nota do Movimento Tapajós Vivo:

NOTA DE REPÚDIO
Nós, ribeirinhos, indígenas, movimentos e organizações sociais da região do Rio Tapajós, vimos por meio desta repudiar a edição da Medida Provisória 558/2012 pela Presidente da República, Dilma Rousseff, que suprimiu vastas áreas protegidas dos Parques Nacionais da Amazônia, das Florestas Nacionais Itaituba I, Itaituba e do Jamanxim e da Área de Proteção Ambiental do Tapajós, de forma  absolutamente inconstitucional.

Essa medida provisória foi assinada com o objetivo principal de abrir caminho para a implantação das mega-barragens de São Luiz do Tapajós e Jatobá no Rio Tapajós, sem qualquer consulta prévia junto às populações ameaçadas, e sem estudos obrigatórios sobre a sua viabilidade socioambiental e econômica. Se construídos, esses projetos vão comprometer a integridade de toda a nossa região, inclusive a base da alimentação e da sustentação econômica das populações locais, como se essa fosse uma região desabitada. Além disso, a MP 558 compromete espaços protegidos que formam uma área prioritária de conservação da biodiversidade, e um verdadeiro escudo a proteger a Amazônia do avanço das frentes de desenvolvimento predatório e do desmatamento. Nesse sentido, a violência desse ato normativo atinge o coração de um mosaico de unidades de conservação e acarreta a destruição dos atributos ecológicos justificadores de sua criação.

Que fique claro que as representações signatárias defendem a validade parcial da medida provisória, apenas na parte em que desafeta a parte Leste do Parque da Amazônia para possibilitar a criação e implantação de assentamentos do INCRA em posses antigas ocupadas por produtores familiares e comunidades tradicionais residentes da área. Esta é uma demanda histórica, legítima e representa um avanço para o desenvolvimento sustentável da região.

Exigimos do Supremo Tribunal Federal a declaração da inconstitucionalidade da Medida Provisória 558/2012, acatando os argumentos do Ato Direto de Inconstitucionalidade – ADI apresentado pelo Procurador Geral da República, Sr. Roberto Gurgel, assim como a sua rejeição pelo Congresso Nacional.

Itaituba, 11.05.2012

Assinam:
Pe. José CarlosPortes – CPT
Maria Eva Gonçalves Souza – com. Km 40/Ass. S. Francisco de Assis
Lucielle de Souza Viana – Pastoral da Juventude
Raione Lima – CPT
Maria do Amparo Ferreira – FMS
Claudete dos Santos – MAB
Simar dos Anjo – comunidade Montanha Mangabal
Raimundo Pereira Silva – com. Km 40/Ass. S. Francisco de Assis
Miguel pereira de Oliveira – com. Km 40/Ass. S. Francisco de Assis
Adão Gonçalves de Araujo – com. Km 40/Ass. S. Francisco de Assis
Maria Pereira Kaiser – Amma/Aveiro
Antonia Melo daSilva – Mov. Xingu Vivo
Daniel Wegman
Eudenir Azevedo – com. Pimental
Edmilson Azevedo – com. Pimental
Antonio Jesus Andrade – com. Pimental
Joelma Costa de Souza – com. Pimental
Genilda Batista de Azevedo – com. Pimental
Jurandir Alves da Silva – CPT
Ivanildo Saw Munduruku
Tiago Munduruku – cacique
Roseninho Pinheiro Torres
Francisca Bezerra Costa – MMCCR
Ilse Maria da Silva – com. Km 40/Ass. S. Francisco de Assis
Pedro Braga da Silva – com. Montanha Mangabal
Adriana Paiva Silva – CFR Rurópolis
Maria Marta de Azevedo
José Odair Pereira – com. Pimental
Rosimar Matos – com. Pimental
Luiz Matos de Lima
Laíde Pereira
Jesielita Roma Goveia – FMS BR 163]
Angela Batista – com. Pimental
Marlene da Silva – com. PimentalJoão Pereira Matos – com. Pimental

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Comments (1)

Caros amigos e amigas, eu também estive presente no evento e assino a nota, como fui fazer uma entrevista fiquei sem assinar o documento mas reafirmo total apoio a esta luta da Aliança dos Rios da Amazônia.

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